O diário de Leticia B. - Parte II



Eu li aqueles versos do diário da minha falecida esposa Leticia e me recordei dela sentada tomando o café em sua xícara de porcelana favorita. Contemplando o horizonte, através de nossa janela.
Fechei o diário com violência e o sangue congelou. Me perguntei quantas vezes ela pensou nesse desconhecido.
Quantas vezes eu olhei em seus olhos de safira e lhe percebi com ar sonhador, pensei que fosse por mim, por mim!
Não era eu a razão dos seus longos suspiros que surgiam ao acaso.
Me distanciei do pequeno livro, como se houvesse queimado os meus dedos, quando na realidade aquelas palavras destruiram o orgulho de um homem acostumado a conquistar quem desejasse.
Saí pelas ruas sem rumo, e remoendo aquelas palavras dela. Comecei a desconfiar que talvez ela estivesse me pagando com a mesma moeda, uma vez que eu havia lhe traído com tantas mulheres e ela me perdoava sempre.
Passei por um bar, bebi um pouco, me diverti com meus amigos e algumas mulheres.
No dia seguinte acordei disposto a enfrentar o diário outra vez.
Mas, as palavras escritas no diário de Leticia, ainda me causavam um misto de raiva e asco. Me senti revoltado, pela primeira vez experimentei o que ela havia experimentado várias vezes, a dor da traição.


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